quinta-feira, 29 de abril de 2010

Saudade em soneto



Valha-me dia frio diante da maior ausência atroz...
Quem terá maldito o espaço ao meu lado
Calou os porquês na garganta ao ler sem letras
Que ando só e ladeado por um amor que nunca está ali

É que a saudade não quer ser vista como termômetro
E não creio em seu pico no dolo o indicador da real febre
Não. O cheiro de alguém ausente inebria todo o sistema
No auge do delírio crônico sorvo a solidão à covardia

Traduzindo o fulgor dessa epopéia difusa
Digo-vos que nada é feito por um ourives solitário
E a falta visceral que sinto copiosamente lacera-me

Inútil jurar um inimigo cruelmente não detectável
Provoca aos sussurros que vê-te pelas ruas
Salve-me já de tudo surgindo à minha porta.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Autocorrosão


Descascar a alma com riso
Ainda que seja seu derretimento
Não denegri a inveja alheia
Haveria jamais de soltar um único pêlo

Mergulhado em suas enseadas sulfurosas
Ao descaso de uns floresce minha paz
Pergunta-me o anjo pela minha dor
E a resposta terá vindo sem demônio

A alma e o riso são de outrem
A inveja é mesmo ao lado deles
E o fio é do meu corpo indivisível

As águas terão com seus donos
Minha paz é sadia em seu invólucro
E se a destruição não chegou aqui...?

sábado, 24 de abril de 2010

Uma para você

Só mesmo a ti que valha
Minha aflição nessa semana

E a maior companheira
É a ausência que extingue os ajustes;

Ao pôr à prova uma tênue ciência
Cuja lei é a tal liberdade a mim cedida,

Venho explodir em contrapartida
Ao comprovar que nada é uma única visão

E que eu conheço o calor expelido
Pela lágrima, pelo suor e do sangue.

A verdade não causa dor insuportável
Atiraria eu nos tímpanos ao fim, caso fosse

O engano me corrói infiel e o que tenho
são palavras que descem ao estômago...

Estilhaçam-se com a paz e acidulam
Como doem...

Tanto tempo e o nosso legado?!?
A errônea oferta de liberdade... Aquela!

A mesma que me subestima ao fogo
Antes fosse fácil ativar a descarga sobre o meu amor

Então a liberdade é o pior presente
Peço uma força que me arranque a contragosto

Estas palavras projéteis não são de matar
Mas que não saiam pela culatra.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Heptetos de amor eterno



Se pudesse, por um segundo,
Roubar-me os olhares
Escuros opalinos;
Estaria jogado ao vácuo de mim
Jazendo à míngua do espírito
Não mais audaz...
Frio.

Ao crer na ausência do fulgor
O qual me trouxe dos ventos
Do todo amor perene
Venho sangrar diante dos reis
Ao saltar do cais altivo
Sempre a amargar...
Um rio.

Em ti o mundo, verdadeiro pavão
Flamula a forjar
O rosto cativo
Em semblantes de não e sim
Ordenando ser exclusivo ao sol
Implorando o amor...
Eu abro.

Fecho as trancas do inferno.
Moldo o ninho felpudo,
Tudo branco
Negro porte do roçar
Sendo simples demais, singelo
O ato de amar...
O astro.

Rasga o peito a dor latente.
Gela o oráculo
Orbe azul.
À explosão de estar deitado
Invade-me o tormento
De esperar-te...
O dia.

Há de sentir cobrir-te com asas
Em calor mundano
O eterno lar
Numa esquina foge o ar
Vem a duna de ti
Radiar, dizer...
"Sorria".

Quero o peso da tua presença
Seio forte do teu aperto
Aspiro calma.
Ao teu medo escorpiono
Sou Deus do teu ser
Um forte...
Escudo.

Claro poético o fiz pedestal.
Ria do meu riso por louvor;
Crie-me teu poema
De fervor que afaga
Uma alma, densa aura
Só por amar...
És tudo.