quarta-feira, 19 de maio de 2010

Correria


A via da solidão
estreita os intentos do andarilho;
Na rota para o destino dos pés
Uma esteira desvenda o trajeto

Aturdido estará o jovem
no arremesso vil dos membros
Uma linha férrea em velhos tormentos
desafia um sóbrio à sua frente.

O viajante lacrimeja outros passos
Diante dos desejos violados
Ao investir de si ao vento, nesta curva.

“Dobre o ódio volvido no sentido oposto”
Que a chegada é feita em bom viés
E a serenidade sempre em prol da correria.

sábado, 15 de maio de 2010

Amor à espera

Um amor à minha volta é sempre o mesmo amor
Já fugi de certa vez, já se foi outras tantas
Já sofri, já vibrei,
reclamei o mesmo amor
E de volta pra casa pensei tê-lo deixado

Ainda que o amor tenha me exilado
Mais certeza não há de seu tom sagrado
É a própria guarida divina em vermelho
Não me deixas, permanece leal e ao meu lado

Não há paz, não consigo respeitar o tal amor
O que dos céus se ausenta entre nós, finalmente?
Nossas flores despetalam em palavras indecentes
E assim, ganho e perco, desarranjo seu fulgor

E na luta diária o amor se apaga
E na falta noturna ele se esconde
Na manhã seguinte ele espera ao pé da cama
E dos sonhos
Não desiste deste vil que o defende
Apesar de tudo
Sobretudo...
Admitindo ser estranho.

Um amor a minha espera tem o mesmo dom de amar
É loucura esse pesar, não o perderei de mim
De um salto, o exalto
E exalto meu conforto
De volta para casa hei de trazê-lo sempre comigo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Paradoxo da incógnita vivida

Tenham a satisfação de apreciar um saldoso poema de um amigo que faz parte de um grupo de parceiros. São eles os Devoradores de Letras.

Paradóxo da incógnita vivida

A morte quando decide nos abraçar,
faz com nossas esperanças
como se tivesse em mãos
eu torrão de areia,
deixando dissipar-se no ar
as pequenas partículas quase que invisíveis
que se esfarelam entre os dedos.

Um contra-peso nos é presenteado
pela graça do universo
num destino maravilhoso
que ainda nos lembra de estarmos vivos,
nos lembra de bons amigos
de amores passados e vitórias conquistadas,
servindo de alívio
para que possamos partir,
sem o manto melancólico da desgraça iminente.

Porém,
os poucos que percebem o intuito da graça,
caem na verdadeira desgraça,
sabendo que só são agraciados
para amenizar a dor da partida.

E a dor passa a se tornar
uma alegre vontade de viver,
só pra sentir vontade de morrer de novo
e largar para trás a tristeza
de uma vida vazia,
morrendo cada vez mais contente
a cada suicídio.

O Escritor é Jefferson Araújo e para acessar o endereço do poema visite:
Os devoradores de letras

terça-feira, 11 de maio de 2010

Viver e dúvida


Eu nunca me preocupei em ser sempre certeza.
Mas isso não impediu que eu me tornasse
a eterna resposta para tudo à minha volta.
Quando o mundo corria, eu quis deitar.
Quando o amor mais me quis, eu lhe dei as costas e decidi amar.
De repente resgato o caminho trilhado repleto em erros.
Aponto o dedo para o nariz do meu próprio presente - tempo
E ele, tristonho, me decorre que é um ator
E muito envergonhado, porém sempre honesto,
Relembra-me que sou seu roteirista e diretor.
Se eu contraí a fé nas etapas vividas por mim,
Eu fui covardemente ludibriado já que
O que eu mais pretendi era ser feliz e
Eu não queria ouvir de ninguém os insultos e a verdade.
Deprimente é aceitar que eu mesmo criei a minha fé.
O que exatamente me alerta que
eu mesmo me dei o meu presente - engano.
A minha cabeça é o planeta dúvida
e gira em torno de si mesmo.
É satisfatório...
Contudo, o ritmo do meu particular conflito
Não alumia nenhuma caverna de longevidade.
Vai ver que muito de viver e amar termina
Vai ver que a vida sempre continua...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mulher de vestido azul cetim tomando café


O nome da cidade é desimportante.
No largo eu nem me dei em situado...
Antes do contorno direcionado
ao aberto,
Foi notável, por reflexos,
O destoar do azul na arquitetura
Cáqui-opaco.

A fonte era cetim ofuscantemente.
Ao sol o objeto era terráqueo
De natureza não-identificada;
Devida cautela requereu o contato
Visual desacreditado
E uma praça já não coexistia.

À verdadeira distância era
uma tocha royal;
Na suntuosa proximidade era mulher
E a postura era sua fórmula
Para compor as quatro dimensões
Com espaço algum.

Conforme a distração
Fosse um escudo aos olhares incrédulos
O porquê daquele azul veio ao caso
E já tão perto
Meu sobreolhado não descrente
Interpretou a obra.

A duração daquele levante
(de xícara)
Ofendeu-me a manhã
Até que a semana inteira
Perdesse o compasso...
Que vapores!

O odor do horário
Foi arbitrário e elegância faltou-te
n’um instante...
Quão rápida teria sido aquela partida
Ao deixar para mim o peso e a conta
da quarta dimensão...
O mistério?